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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

a autora apresenta aos leitores um olhar sobre o amor fadado a uma eterna espera sob a perspectiva feminina.


Aos dez anos, Júlia Capovilla praticava vorazmente o amor fictício, cultivando um vasto elenco de amantes imaginários. Esperava-os penteada, vestida com toda combinação de peças de que podia dispor entre as próprias e as deixadas pela mãe. Os lábios, lambuzados de cor-de-rosa, cheiravam a framboesa, e no rosto, o incêndio da correria, do susto, da ousadia de sair de casa dizendo que ia ao armazém comprar rapadura, merengue ou figurinha, e tomar o rumo da estação. Depois, perambulava com seus pares invisíveis por ruelas vazias e terrenos baldios, tomando cuidado pra que ninguém os notasse — não achava graça em brincar de amores que não fossem clandestinos.

Escritora, jornalista e dramaturga, a gaúcha Manoela Sawitzki conquistou o público e a crítica com o elogiado Nuvens de Magalhães – publicado em 2002, quando ela tinha 24 anos – e a peça Calamidade, que originou uma premiada montagem em Porto Alegre. Em seu segundo romance, SUÍTE DAMA DA NOITE, a autora apresenta aos leitores um olhar sobre o amor fadado a uma eterna espera sob a perspectiva feminina.
A protagonista é Júlia Capovilla, que conduziu sua vida para o decisivo momento em que reencontraria Leon, por quem se apaixonara ainda menina. Quando o destino finalmente os reúne, ela descobre que ele está prestes a se casar com outra e se dá conta de que a única forma de mantê-lo em sua vida é tornar-se sua amante. A partir de então, os únicos momentos de alegria na existência de Júlia acontecem na cama, a cada crepúsculo, na suíte Dama da Noite.
O livro surgiu de uma vontade de entender melhor a espera amorosa, segundo a autora. “Fala-se muito sobre o amor, como começa e acaba, mas aquilo que o precede, a espera, o hiato entre o desejo e a realização pode ser uma coisa brutal.” Inspirada nas heroínas românticas e trágicas, como Madame Bovary, Julieta e Ofélia, Manoela construiu uma personagem movida pela paixão, mas que consegue ao Presa aos laços de uma mãe ausente, um pai doente, uma tia cuidadosa, um amante omnipresente mas inacessível, Júlia é uma personificação da espera, da sensação de incompletude. Uma história que mistura confissão e vivência, redemoinho e salvação. Nas palavras do escritor angolano Ondjaki, que assina a orelha do livro: “Manoela Sawitzki inscreve assim, na literatura contemporânea brasileira, um poderoso retrato das querenças, relações e contradições humanas, partindo do olho de um oculto furacão chamado Júlia Capovilla.”

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