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sexta-feira, 24 de abril de 2009

A última gota

Quando você olha para um copo cheio d'água, será que é capaz de dizer que uma única gota a mais fará o copo transbordar? Difícil, não é? É possível que faltem ainda várias gotas... mas também é possível que o copo esteja no seu exato limite. Ninguém poderá dizer, só a última gota poderá confirmar.
Esse exemplo vale para você, para mim, para o Maracanã lotado. Serve para todos os humanos. Não raro, somos como um copo cheio, não sabemos disso, todavia. De repente, uma "gota" inesperada ou inadvertida, uma gotinha de nada faz-nos o "copo" derramar, faz-nos o corpo explodir.
Já disse que leio obituários nos jornais, leio-os para saber quem morreu, com que idade morreu e do que morreu. Morbidez de minha parte? É possível, é possível. E, vez por outra, dou de cara com um rosto conhecido, mais um amigo que se foi... Do que morreu, Santo Deus, era ainda uma pessoa jovem... Foi a gota, foi a maldita gota.
Andamos, muitos de nós, com o nosso copo do corpo físico pelas beiradas, quase transbordando. Correrias, compromissos estúpidos e inúteis, vaidades, competições de todo tipo, encrencas em casa, no trabalho, no trânsito e, acima de tudo, com nós mesmos. São as piores encrencas, as que temos com os nossos fantasmas interiores.Ontem mesmo, um desses fantasmas que vivem em mim ergueu o dedo indicador, fez-me observações, disse-me coisas cruéis, mas todas verdadeiras. Quis escamoteá-las, dissimular, mas o fantasma continuou, severo, fez-me calar a boca. Sentenciou-me culpado de rematadas tolices.
Sempre soube delas, mas e daí? Adianta saber, adianta ter consciência? Conheço médicos que fumam, que se drogam, que se lixam na vida. Será que não sabem do que fazem e dos males a que se expõem? Bolas, não é a razão, não é a consciência clara que nos faz mal, são os inconscientes da mente, os recalques, as compensações buscadas para os vazios e para as nulidades que habitam nossos porões mentais...
Corremos atrás do vento, corremos atrás de vaidades, como diz o Eclesiastes, e vamos enchendo o "copo" do corpo físico. Excluímos da mente os entusiasmos da simplicidade, do viver com o suficiente para correr atrás dos estressantes inúteis da vida.
De repente, o coração, o pobre músculo operário e esquecido, perde o controle, perde o ritmo... e lá se vai mais um dedicado chefe de família. Nada. Lá se vai, lá se foi mais um bobão..., isso sim. O que mais mata, leitor, não nos esqueçamos disso, é a estupidez. E a última gota, a que mata, costuma ser chamada de estupidez, a gota fatal.

3 comentários:

  1. perfeito este post. parabéns.
    "E a última gota, a que mata, costuma ser chamada de estupidez, a gota fatal."

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  2. MUITO BOM. É UM ACORDA MENINO PRA QUEM SE TOCAR!!!

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  3. Ivandro, o problema não está na última gota, e sim nas anteriores, que fizeram o copo encher. E feliz do copo que enche, se derrama, nos alerta que não estamos bem, colocamos nossos podres para fora e esvaziamos o copo novamente. Caso não nos assustemos com o primeiro transbordar do copo, aí sim temos que nos preocupar, pois o copo encherá novamente, e o que era uma simples gotinha, pode se transformar em uma tormenta! Beijos pra ti, lindo texto.

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